quinta-feira, 14 de junho de 2007

Como não tenho engenho para exprimir a minha raiva, uso o engenho dos outros

Assustadora a contemporaneidade…

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

[.] Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela
abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Sociedade igualitária

Que sociedade igualitária é esta onde se ouve dizer que para trabalho igual salário igual e onde os colegas mais novos que eu ganham menos? Que sociedade igualitária é esta, onde a uma mulher de 40 anos é negado emprego por ser velha? E têm o desplante de mencionar o critério idade quando requisitam pessoal! Que sociedade igualitária é esta, onde ser feio é quase um pecado. Que sociedade igualitária é esta, onde profissões em que domina o sexo feminino só tem homens a chefiar?
Também, não admira! Quem quer ser chefe nesta sociedade? Só mesmo para homens que não têm mais nada de interessante para fazer e certamente, muitos, não sabem fazer mais nada!
Hoje, decididamente, estou mais aborrecida que nos outros dias e não é por falta do que fazer.

O que pode haver de mais belo?!

terça-feira, 15 de maio de 2007



As flores de Abril já não são os cravos, esses estão fora de moda, são coisa dos vellhos do Restelo. Estamos no tempo da globalização, do desenvolvimento, as flores são outras, talvez tulipas ou narcisos, quem diz narcisos lembra os narcisistas e outras coisas acabadas em ista, isto e ismo.

quarta-feira, 9 de maio de 2007