quinta-feira, 25 de dezembro de 2008


Não gosto de compras de Natal, não gosto de troca de prendas compradas compulsivamente e em exagero, não gosto de mesas sofisticadas para comemorar o Natal, não gosto da caridadezinha de que são vitimas os pobres e os pobrezinhos do mundo, nesta altura.
Gosto da tranquilidade que esta época traz à minha vida, gosto da árvore e do que ela representa, gosto do riso das crianças, do presépio, da simplicidade e do desprendimento que é para mim esta comemoração. O brilho do Natal emana daquele garoto nascido, numa noite fria, nos arredores de Belém, de forma tão simples e despretensiosa.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal sem Natal

Já há uns anos que me afastei desta fúria que ataca os cidadãos pelo Natal.
Natal. O que é isso? A festa das compras, a festa do pai Natal, a festa das crianças, a festa das prendas. Então e o outro, o pequenito que se diz ter nascido há uns anos, por esta altura? Que Natal cristão é este que até os islâmicos ou os judeus podem comemorar?
O pai Natal não passa de uma produção comercial, por acaso um velho pançudo e gordo, certamente cheio de colesterol, vestido com um fato ridículo. O pai Natal deveria ser o santo padroeiro dos comerciantes. As pessoas circulam pelas lojas com vontade de comprar seja o que for. A prenda do tio, do pai, da avó… ainda há tantas para comprar e o tempo escoa. No final da abertura das prendas, há inutilidades espalhadas pela sala misturadas com um monte de papel e caixas, que na manhã de Natal vão entupir os caixotes do lixo.
O Natal acabou com a chegada do pai Natal e com a quantidade das prendas.
Em pequena, esta época tinha um cheiro e um sabor próprio que a minha pouca arte para a escrita não consegue descrever. Havia alegria e tranquilidade. Uns dias antes, a mãe ia às compras, na loja da aldeia. Quando chegava a casa abria a cesta e lá estavam os frutos secos e o bolo-rei, uma caixa de bolinhos Triunfo e uma garrafa de vinho do Porto, que na época não estava interdito aos mais pequenos. Na véspera fritavam-se as rabanadas e os bilharacos , cozinhava-se o bacalhau. Eu não era apreciadora de nenhum destes doces e muito menos do bacalhau com as couves, agradavam-me os bolinhos da Triunfo com as pratas coloridas que eu colocava entre os livro muito espalmadas. Apesar de não gostar da comida, o ambiente bastava-me e enchia-me de ansiedade e expectativa. Nas minhas recordações, a manhã de Natal surgia sempre fria e sem chuva e no sapatinho, que religiosamente colocava na lareira, havia sempre uma prendinha que durante muito tempo eu imaginava a ser posta pelo Menino Jesus, na sua versão já adulta. Sim, adulto. Para mim era inimaginável o Menino Jesus bebé a saltitar pelos telhados. Mas já na altura me questionava por que motivo a minha boneca era sempre de plástico rígido e a de uma das colegas já falava e até andava. Mesmo assim, eu adorava aquele Menino tão desprotegido, que nascera numa terra longínqua de que eu não conhecia nada mas imaginava tudo, naqueles tempos do meu Natal.
Hoje, em minha casa tento recriar o Natal daquele tempo, sem excessos nem prendas por todo o lado, e isso devolveu-me a alegria tranquila do Natal.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O Banco Alimentar Contra a Fome

Estou a ficar avarenta, somítica. Não quero dar nem um pouco do resto do salário que me chega às mãos, depois de me tirarem quase metade para pagar impostos. Porra!
No fim de semana passado, apareceram à minha porta os bombeiros do meu concelho. Este fim de semana, apareceram os bombeiros do concelho vizinho. No supermercado alguém me quis dar uma saca para eu colaborar com o Banco Alimentar contra a fome. A mim, que não uso sacas, odeio sacas.
Hoje, um vizinho queixou-se que, há dias, precisou de uma ambulância. A mãe, já idosa e cardíaca, necessitava de ajuda médica, telefonou para os bombeiros do concelho. Não tinham ambulância. Lembrou-se de telefonar para os bombeiros do concelho vizinho. Resposta:
─ A sua residência não se encontra abrangida pelos nossos serviços.
─ Então e se a minha mãe morre?
─ Se ela morrer é problema seu.
Assim, sem mais. Tinham razão. Afinal a senhora não morreu.
Que fazem os caridosos no Banco Alimentar? Dão uma prestação para o seu lugar no céu e dão alimento aos pobres que cada vez são mais. Algum destes alimentos deve estar com nutrientes fomentador da pobreza. Aumenta a caridadezinha e os pobres também. Será do arroz importado, da Índia e da China?
Por que há tanta gente na minha terra a viver do Rendimento de Reinserção Social e a gastar o pouco dinheiro que têm em coisas inúteis?
Por que há drogados a quem dão Metadona, mas não dão trabalho?
Por que há casais a receber o Rendimento de Reinserção Social, por cabeça, isto é, mais filhos mais dinheiro, e outros a ganhar o salário mínimo e a quem ninguém pergunta quantos são os elementos da família e, assim, saber qual o ordenado a pagar?
Por que há pessoas que trabalharam dos 13 aos 65 anos e têm reformas tão pequenas?
Por que é que os nossos políticos têm reforma assegurada com uns tempos de trabalho, e eu vou trabalhar mais de quarenta anos para poder ter reforma?
Há qualquer coisa errada comigo. Algum dos meus genes encontra-se danificado e eu já não consigo envolver-me pelo espírito do Natal.
O Banco Alimentar contra a Fome é mais um flor de Abril a desabrochar em Dezembro.
Ainda bem que ninguém vai ler isto. Caso contrário era excomungada. Aliás, eu acho que estou a ser excomungada.
Há funcionários públicos a fazer greve esta semana. Por que razão não é oferecido o dinheiro que fica nos cofres do Estado, ao Banco Alimentar?